Assim com a novela e o romance são do tipo narrativo, assim também o conto literário o é. Em contraste com o romance, que geralmente é mais longo, o conto é mais curto (short story, no inglês), isto é, de configuração material narrativa pouco extensa, historicamente verificável. Essa característica de síntese traz outras: número reduzido de personagens ou tipos; esquema temporal e ambiente econômico, muitas vezes, restrito; uma ou poucas ações, concentrando os eventos e não permitindo intrigas secundárias como no romance ou na novela, e uma unidade técnica e de tom (fracção dramática, sedutora, em que tempo e espaço e personagens se fundem, muitas vezes) que o romance não mantém.
A limitação de extensão e síntese do conto tem a ver com suas origens socioculturais e circunstâncias pragmáticas. Ele tem origem nos casos/ causos populares que, com sua função lúdica e moralizante, tanto seduziam e seduzem o auditório presencial dos contadores de casos das comunidades. Associa-se ao desejo humano de compartilhar acontecimentos, sentimentos e ideias. Trata-se da atmosfera mágica do "Era uma vez...", presente nas narrativas ou relatos que deram origens às histórias de Mil e uma noites, por exemplo, a tantas fábulas, a tantos contos de fadas. Socioculturalmente, portanto, o conto literário tem sua origem na cultura oral, enquanto o romance é regido pela cultura escrita/leitura.
Conto Popular
Historicamente, os contos populares são herança de crenças e mitos primitivos que se adaptaram a novos contextos culturais. Como o caso/ causo e o conto literário, o conto popular também é breve e curto, com número reduzido de personagens geralmente são anônimas e culturalmente prototípicas (rei, princesa, dragão, padre, moleiro...) Enunciativa, as fórmulas introdutórias do tipo "Em um reino muito distante...", de localização temporal indefinida, acabam dando ao conto um caráter de permanência temporal (passado e atual), além de colocá-lo no mundo ficcional. Mas há outras características pragmáticas que o diferenciam do conto literário: origem: vêm das camadas hegemônicas, não letradas da população, como também o vêm os provérbios, as adivinhas, os jogos de palavras, as cantigas..., que fazem parte de uma literatura oral tradicional, não institucionalizada, transmitida de geração para geração; emissão/ produção: é feita por um tipo de sujeito coletivo, pois é a comunidade que legitima os discursos anônimos da tradição cultural de um povo, produzidos por intérpretes pontuais que, muitas vezes, inovam, atualizam esses discursos , conservando-lhes, contudo, a essência, enquanto no conto literário existe escritor/ autor, que é um sujeito que se pode identificar e nomear e tem controle relativo de sua produção; recepção: trata-se também de um interlocutor coletivo que limita as inovações individuais dos intérpretes tanto por intervenções ou comentários quanto por uma espécie de censura promovida por crenças, costumes e ética da comunidade em que circulam os contos; temática: é tão diversa que exige uma imensa tipologia de contos: contos maravilhosos ou de encantamento, da carochinha, de animais, de adivinhação, contos religiosos, contos etiológicos...; ingredientes: um dos principais ingredientes desses contos é a irracionalidade: a galinha dos ovos que bota ovos de ouro, a fada que transforma uma criada em princesa com um toque de sua vara, animais que falam, etc.
COSTA, Sérgio Roberto. Dicionário de gêneros textuais. 2. ed. rev. ampl. - Belo Horizonte: Autêntica, 2009, p. 74-75-76.
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A estrutura do enredo
- Introdução (ou apresentação): geralmente coincide com o começo da história; é o momento em que o narrador apresenta os fatos iniciais, as personagens e, às vezes, o tempo e o espaço.
- Complicação (ou desenvolvimento): é a parte do enredo em que é desenvolvido o conflito.
- Clímax: é o momento culminante da história, ou seja, aquele de maior tensão, no qual o conflito atinge o seu ponto máximo.
- Desfecho (ou conclusão): é a solução do conflito, que pode ser surpreendente, trágica, cômica, etc., e corresponde ao final da história.