24 de outubro de 2012

Concordância

Para que serve a concordância?

A concordância - verbal ou nominal - está ligada aos princípios lógicos que regem a língua e o pensamento humano. Concordar adequadamente o sujeito com o verbo ou adjetivo com o nome pode tornar o texto mais preciso, sem ambiguidades, mas o principal valor da concordância é social.
Socialmente, existe uma norma de prestígio, que é a norma culta. Em determinadas formas de situações formais - como falar em público, fazer entrevistas para conseguir emprego, falar com autoridades, etc. - devemos observar essa norma, senão corremos o risco de sermos julgados de forma preconceituosa e não alcançamos nossos objetivos.
E, na norma de prestígio, um dos princípios mais notados e exigidos socialmente é o da concordância. 





Concordância nominal - Preste atenção ao cortar e reescrever textos. É deste trabalho que surgem os piores erros de concordância nominal: A medida foi criticados; Aparelhagem de microscopia mal regulado. Esse tipo de erro ocorre quando o redator troca um substantivo por outro de gênero ou número diferentes -decretos por medida, aparelho por parelhagem- e não adapta o adjetivo. Redobre a atenção com períodos longos.

Tome cuidado também com as construções em que um adjetivo qualifica mais de um substantivo: A casa e o prédio velhos; Foi confiscada a carne e o gado. Aplique nesses casos regras análogas às da concordância verbal, expostas no próximo verbete. Lembre-se de que em português o masculino prevalece sobre o feminino: Alexandra e Herculano são bons autores.



Concordância verbal - Há uma única regra: o verbo concorda em número (singular ou plural) e pessoa (1ª, 2ª ou 3ª) com o sujeito da oração. É errado dizer nós vai ou ele são, como qualquer um percebe. Mas logo surgem as dificuldades: mais de um é ou mais de um são? Existe Deus e o diabo ou existem Deus e o diabo? Em geral, as duas construções são admitidas e podem ter significados diferentes.

A maioria das dificuldades ocorre quando coexistem palavras de caráter fortemente plural e singular no mesmo sujeito:

a) Coletivos - Às vezes, as ideias de plural e singular existem ao mesmo tempo numa única palavra. É o caso dos coletivos. A palavra exército, mesmo no singular, encerra a ideia de plural (um exército é composto de vários soldados). Ninguém escreve o exército são. Mas Alexandre Herculano escreveu: "Vadeado o rio, a cavalgada encaminhou-se por uma senda tortuosa que ia dar à entrada do mosteiro, onde desejavam chegar". Trata-se da concordância lógica (também chamada ideológica ou siléptica) que se opõe à concordância gramatical. Evite esse tipo de construção; prefira o singular: A maioria acredita no governo.

Mas atenção: tanto faz escrever a maioria dos entrevistados acreditam quanto acredita. Havendo um substantivo seguido da preposição de e de outro substantivo ou pronome formando um partitivo, o verbo pode ir para o plural (concordância lógica) ou singular (concordância gramatical), dependendo da ênfase que se quer dar. O uso do singular reforça a ideia de conjunto. O plural, a de individualidade dos membros do conjunto.

Há casos em que a concordância lógica é preferível: A pesquisa revelou que 1% das mulheres brasileiras são desquitadas; A campanha prevê que 1 milhão de crianças sejam vacinadas. De acordo com a concordância gramatical, os períodos ficariam: A pesquisa revelou que 1% das mulheres brasileiras é desquitado; A campanha prevê que 1 milhão de crianças seja vacinado;

b) Um - Este numeral está impregnado de singularidade. Quando faz parte de um sujeito logicamente plural, carrega o verbo para o singular: Cada um daqueles deputados era servido por 40 motoristas; Mais de um brasileiro deseja ganhar na loteria. Exceção: Mais de um ministro se cumprimentaram na recepção (porque há ideia de reciprocidade).

Tome cuidado com a expressão um dos que, que de preferência deve ser acompanhada de plural. Mas atenção: a concordância pode alterar o sentido da frase: Schwartzkopf foi um dos generais que mais se distinguiram na Guerra do Golfo (ele se distinguiu, entre outros generais que também se distinguiram), mas Schwartzkopf foi um dos generais que mais se distinguiu na Guerra do Golfo (ele foi o que mais se distinguiu); O Sena é um dos grandes rios que passa por Paris (é o único grande rio que passa por Paris). Evite esta última construção, que é muito sutil para texto noticioso.

As expressões um e outro e nem um nem outro podem ser usadas tanto com plural como com singular, indistintamente: um e outro é bom ou um e outro são bons. Prefira o plural se a expressão vier acompanhada de um substantivo: um e outro homem são bons.

Também costumam apresentar dificuldade os seguintes tópicos:

a) Ou - Use o singular se ou introduzir ideia de exclusividade: Nicodemo ou Aristarco será eleito presidente (apenas um deles será eleito); se os dois agentes puderem realizar a ação, o verbo vai para o plural: Nicodemo ou Aristarco devem chegar nos próximos minutos;

b) Nem - Pode levar o verbo para o plural ou o singular, indistintamente. Nem Ulisses nem Eneas será eleito presidente; Nem Ulisses nem Eneas serão eleitos presidente;

c) Com - Se a relação for de igualdade, o verbo vai para o plural: O general com seus oficiais tomaram o quartel. Se os elementos não têm a mesma participação, o verbo vai para o singular: Bush com seus aliados venceu o Iraque. Esse tipo de concordância também vale para expressões como não só... mas também, tanto... como, assim... como. Esse tipo de construção é precioso demais para textos noticiosos;

d) Verbo antes do sujeito composto - Nestes casos, o verbo pode concordar com o elemento mais próximo ou com o conjunto: Estréia o filme e a peça ou Estréiam o filme e a peça. Use o plural se o sujeito composto for uma sucessão de nomes próprios ou se a ação for de reciprocidade: Adoeceram Maria, Carla e Paula; Enfrentam-se Corinthians e Palmeiras. Essas construções também são preciosas demais para ser usadas em textos noticiosos;

e) Gradação/resumo - Sujeitos compostos devem ser conjugados com o verbo no singular se constituírem uma gradação: "Aleluia! O brasileiro comum, o homem do povo, o joão-ninguém, agora é cédula de Cr$ 500,00!" (Carlos Drummond de Andrade).

O singular também vale para sujeitos compostos resumidos por palavras como tudo, nada, ninguém, nenhum, cada um: Jogo, bebida, sexo e drogas, nada pôde satisfazê-lo;

f) Pronomes - Eu e tu somos, tu e ele sois, eu e ele somos. A 1ª pessoa prevalece sobre a 2ª, que prevalece sobre a 3ª. Essas construções são raras no jornalismo.

Se o pronome pessoal vier antecedido de interrogativos ou indefinidos como quais, quantos, alguns, poucos, muitos, na norma culta, o verbo concorda com o pronome pessoal: Poucos de nós conhecemos a gramática. Admite-se também a concordância mais coloquial com o indefinido ou interrogativo: Poucos de nós conhecem a gramática;

g) Quem/que - Sou um homem que pensa ou sou um homem que penso, mas sou eu quem fala. Com quem o verbo vai sempre para a 3ª pessoa;

h) Pronomes de tratamento - O verbo e o pronome possessivo ficam sempre na 3ª pessoa: Vossa santidade deseja sua Bíblia? Se houver um adjetivo, ele concorda com o sexo da pessoa a que se refere: Sr. governador, vossa excelência está equivocado;

i) Sujeitos infinitivos - Quando o sujeito de uma frase é uma sucessão de infinitivos genéricos, use o singular: Plantar e colher não dá dinheiro. Se os infinitivos forem determinados, plural: O comer e o beber são necessários à saúde;

j) Nomes próprios - Se o sujeito é um nome próprio plural e estiver ou puder estar precedido de artigo, use o plural: Os EUA lançaram um ultimato a Saddam Hussein; Os Andes são uma cadeia de montanhas; As Filipinas são um arquipélago. Outros nomes perderam a ideia de plural: O Amazonas corre em direção ao mar; Minas Gerais é um Estado brasileiro; Alagoas tem belas praias;

l) Nomes de obras - Mesmo no plural, dê preferência ao singular: "Os Pássaros" é um filme de Hitchcock; "Os Lusíadas" é a obra-prima de Camões;

m) Nomes de empresas - O verbo também pode ir para o singular quando o sujeito é um nome de empresa no plural: Lojas Arapuã adota nova estratégia, ou adotam nova estratégia;

n) Concordância por atração - Em frases com o verbo de ligação ser, o verbo pode concordar com qualquer elemento (sujeito ou predicativo). Em geral, concorda com o mais forte: Isto são histórias; O que trago são fatos; Emília era as alegrias da avó; Dois milhões de dólares é muito dinheiro.


Bibliografia:

Cereja, Willian Roberto. Gramática: texto, reflexão e uso. São paulo: Atual, 1998.

Concordância verbal e nominal. Disponível em:<http://www1.folha.uol.com.br/folha/circulo/manual_texto_c.htm.> Acesso em 24set2012.

 

14 de outubro de 2012

Dicas para se escrever bem

Este texto foi retirado do livro Português Esquematizado, de Agnaldo Martino. O autor não cita a fonte de referência pois o texto circulou pela internet de modo indiscriminado.  Vale a pena conferir as dicas.

  •  Vc. deve evitar abrev., etc.
  •  Desnecessário faz-se empregar estilo de escrita demasiadamente rebuscado, segundo deve ser do conhecimento inexorável dos copidesques. Tal prática advém de esmero excessivo que beira o exibicionismo narcisístico.
  • Anule aliterações altamente abusivas.
  •  “não esqueça das maiúsculas”, como já dizia dona loreta, minha professora lá no colégio alexandre de gusmão, no ipiranga.
  • Evite lugares-comuns assim como o diabo foge da cruz.
  • O uso de parênteses (mesmo quando for relevante) é desnecessário.
  • Estrangeirismos estão out; palavras de origem portuguesa estão in.
  • Chute o balde no emprego de gíria, mesmo que sejam maneiras, tá ligado?
  • Palavras de baixo calão podem transformar seu texto numa merda.
  • Nunca generalize: generalizar, em todas as situações, sempre é um erro.
  • Evite repetir a mesma palavra, pois essa palavra vai ficar uma palavra repetitiva. A repetição da palavra vai fazer com que a palavra repetida desqualifique o texto onde a palavra se encontra repetida.
  • Não abuse das citações. Como costuma dizer meu amigo: “Quem cita os outros não tem idéias próprias”.
  • Frases incompletas podem causar
  • Não seja redundante, não é preciso dizer a mesma coisa de formas diferentes; isto é, basta mencionar cada argumento uma só vez. Em outras palavras, não fique repetindo a mesma idéia.
  • Seja mais ou menos específico.
  •  Frases com apenas uma palavra? Jamais!
  •  Use a pontuação corretamente o ponto e a vírgula especialmente será que ninguém sabe mais usar o sinal de interrogação
  • Quem precisa de perguntas retóricas?
  • Conforme recomenda a A.G.O.P, nunca use siglas desconhecidas.
  • Exagerar é cem bilhões de vezes pior do que a moderação.
  • Evite mesóclises. Repita comigo: “mesóclises: evitá-las! -ei!”
  • Analogias na escrita são tão úteis quanto chifres numa galinha.
  • Não abuse das exclamações! Nunca! Seu texto fica horrível!
  • Evite frases exageradamente longas, pois estas dificultam a compreensão da idéia contida nelas, e, concomitantemente, por conterem mais de uma idéia central, o que nem sempre torna o seu conteúdo acessível, forçando, desta forma, o pobre leitor a separá-la em seus componentes diversos, de forma a torná-las compreensíveis, o que não deveria ser, afinal de contas, parte do processo da leitura, hábito que devemos estimular através do uso de frases mais curtas.
  • Cuidado com a hortografia, para não estrupar a língüa portuguêza.
  •  Seja incisivo e coerente, ou não.
Bibliografia

Martino, Agnaldo. Português Esquematizado: gramática, interpretação de texto, redação oficial, redação discursiva. São Paulo: Saraiva, 2012- p. 506-507.