24 de fevereiro de 2013

Comparação

Comparação é a figura de aproximação de dois elementos realçando as suas semelhanças, usando-se para isso elementos comparativos: como, feito, tal qual, que nem etc.

Veja:

- Aquela menina é delicada como uma flor.
- Ela é alta que nem um poste!
- Tal qual o pai, ele tornou-se professor
- Ela estava paralisada como uma estátua.
- É pequeno como uma formiga.
- Suas unhas são tão afiadas como as de um gato.

No poema abaixo temos a comparação entre a criança e o poeta:

 
O poeta se aproxima da criança,
que vê o mundo com olhos virgens e que,
por quase nada saber, está aberta ao mistério
das coisas. Para a criançacomo para o
poeta
— viver é uma incessante descoberta da vida
.


Ferreira Gullar


 ***

O leão

Leão! Leão! Leão!
Rugindo como o trovão

Deu um pulo, e era uma vez
Um cabritinho montês.
Leão! Leão! Leão!
És o rei da criação!
Tua goela é uma fornalha
Teu salto, uma labareda
Tua garra, uma navalha
Cortando a presa na queda.
[...]
Vinicius de Moraes. 


No verso “rugindo como o trovão” o poeta aproxima o rugido do leão ao do trovão, ou seja, comparando força, poder, capacidade de assustar e causar medo.

Metonímia

Metonímia: consiste na substituição de um nome por outro porque entre eles existe alguma relação de proximidade. Essa relação de substituição surge quando se emprega:

a) a parte pelo todo (ou vice-versa):

Estava novamente sem teto (teto = casa).

b) o gênero pela espécie (ou vice-versa).
Os mortais são covardes (mortais = homens).

c) O singular pelo plural (ou vice-versa).
O francês gosta de um bom vinho (francês = franceses).

d) a matéria pelo objeto:
Colocou seus cristais à venda (cristais = copos ou objetos de cristais)



Obs.:  Os casos acima exemplificados são denominados por alguns autores como sinédoque. Modernamente a metonímia engloba a sinédoque.

e) o autor pela obra:
"Devolva o Neruda que você me tomou e nunca leu..." (Chico Buarque)
(Neruda = livro de poesias de Pablo Neruda)
f)  a causa pelo efeito (ou vice-versa):
"Comerás o pão com o suor de teu rosto." (suor = efeito da causa que é o trabalho, isto é, "Comerás a comida com fruto do teu trabalho"). Temos aqui, também a parte pelo todo: pão designa o alimento em geral.
g) o continente pelo conteúdo (ou vice-versa):
Tomou duas latas de cerveja (lata = a cerveja contida na lata).
h) o instrumento pela pessoa que o utiliza:
Ele é um bom garfo (garfo = glutão, guloso, homem que come muito).
i) o lugar pelo produto:
O presidenciável gosta de um bom havana (havana = charuto fabricado em Havana, capital de Cuba).
j) o concreto pelo abstrato (ou vice-versa):
A junvetude brasileira está desorientada (juventude = as pessoas jovens).
k) o sinal pela coisa significada:
O trono estava abalado (trono = império, reino)



É muito comum usarmos em nosso dia-a-dia a marca ao invés do produto, isso acontece porque associamos o nome ao conteúdo. As marcas mais consumidas são as que mais estão propensas a essa troca/associação. Faça o teste na sua casa, peça para alguém listar o nome de produtos a serem comprados no mercado e verá que ela poderá ser semelhante a esta:

Outro caso:



No quadrinho em que se encontra a fala "A COZINHA É FABULOSA" tem-se o uso da palavra "cozinha" ligada a ideia de comida.

Catacrese

Catacrese: ocorre quando transferimos a uma palavra o sentido próprio de outra. Se a metáfora surpreende pela originalidade na associação de ideias, o mesmo não acontece com a catacrese, que, por ser constantemente repetida, já não chama a nossa atenção. Exemplo:

"Ele embarcou no trem das onze."

Observe que o verbo embarcar pressupõe barco e não trem. Mas essa forma de dizer já está tão incorporada na língua que nem percebemos que se trata de linguagem figurada. O mesmo ocorre com expressões como:
- perna de mesa 
Imagem:http://figura2b.blogspot.com.br/2011/04/catacrese.html
- folha de papel 
- braço da cadeira 
- asa da xícara 
- coração da cidade 
- enterrar uma faca no peito 
- pé da página
- cabeça de alfinete
- banana de dinamite
- braço da poltrona
- cabelo de milho
- dente de alho
- enterrar uma agulha no dedo
- embarcar no aviã
- maçã do rosto
- coroa do abacaxi
- batata da perna
- cabeça do prego
- manga da camisa
- levou um soco na boca do estômago
- ala de edifício
- costas da cadeira
- braço do rio
- azulejo (Obs.: antigamente esta palavra era usada para designar ladrilhos da cor azul . Hoje em dia, ela perdeu seu sentido original servindo para designar qualquer cor de ladrilho.)
Podemos formar qual expressão com esta imagem abaixo?
   

12 de fevereiro de 2013

Metáfora

A metáfora apresenta uma palavra utilizada em sentido figurado, fora da significação real, em virtude de semelhança subentendida. 


"Temos metáfora toda vez que, indo além da simples apresentação de propriedades comuns, pensamos uma realidade nos termos de uma outra. O exercício de pensar uma realidade em termos do que ela não é nos leva sempre a alguma descoberta, por isso mesmo, a metáfora é uma poderosa fonte de novos conhecimentos e novos comportamentos. Pensar uma realidade em termos de outras proporciona também um prazer estético.

As descobertas proporcionadas pelo uso figurado da linguagem são mais ou menos previsíveis no caso de metáforas que se tornaram correntes e convencionais.
Uma frase como:
José é um palito leva quase automaticamente a pensar em magreza (e não na possibilidade de usar José para palitar os dentes). As “descobertas” são mais “trabalhosas”, e mais compensadoras, no caso das metáforas autenticamente criativas. 
Do que falava Manuel Bandeira com esta frase, aplicada a uma de suas antigas namoradas?

Maria, você é uma perna.
Feiura? Banalidade? Utilidade?
"
 Ilari, Rodolfo. Introdução à semântica - brincando com a gramática.

 
O que queremos dizer quando dizemos que/de alguém:

a) Aquela criança é uma flor.
b) Esse menino é um trator.
c) Fulano é um cavalo.
d) ...é uma mula (empacada). ...
e)... é um tatu.
f) ... é uma cobra. 
g) ... é um urso
h) ... é um gato.
i) ...  é um galinha.
j) ... tem olhos de lince.
k) ... tem olhos de gavião.
l) ...  fez uma cachorrada.
m) ... come como um passarinho.
n) ... dorme com as galinhas.
 

 Podemos encontrar metáforas em diversos gêneros textuais. Sua compreensão é subjetiva,  cabe ao leitor interpretar esta figuração de acordo com sua sensibilidade e visão de mundo, no entanto, de modo coerente com o contexto em que foi empregada.



Em canção:
 
Sem Açúcar
 

Todo dia ele faz diferente, não sei se ele volta da rua
Não sei se me traz um presente, não sei se ele fica na sua
Talvez ele chegue sentido, quem sabe me cobre de beijos
Ou nem me desmancha o vestido, ou nem me adivinha os desejos

Dia ímpar tem chocolate, dia par eu vivo de brisa
Dia útil ele me bate, dia santo ele me alisa
Longe dele eu tremo de amor, na presença dele me calo Eu de dia sou sua flor, eu de noite sou seu cavalo

A cerveja dele é sagrada, a vontade dele é a mais justa
A minha paixão é piada, sua risada me assusta Sua boca é um cadeado e meu corpo é uma fogueira 

Enquanto ele dorme pesado eu rolo sozinha na esteira
E nem me adivinha os desejos
Eu de noite sou seu cavalo


Chico Buarque 

Em poema:

Os poemas


Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti ...


Mario Quintana

 

O bicho

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio,
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão.
Não era um gato.
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.


Manuel Bandeira

Na publicidade

In: http://mesquita.blog.br/pro-dia-nascer-melhor-31032009





 Vídeo de apoio:

 
In: http://terratv.terra.com.br/videos/Noticias/Vida-e-Estilo/Colegio-Web/4692-257769/Compreensao-de-metaforas-depende-do-leitor.htm

 

11 de fevereiro de 2013

Personificação (prosopopeia)

A personificação/ prosopopeia consiste em atribuir atitudes ou características humanas a coisas ou a seres irracionais. Ela é muito usada nas fábulas, que apresentam animais comportando-se como seres humanos.

Veja alguns exemplos:

1. Meu carro morreu.
2. Meu cãozinho ri para mim quando chego em casa.
3. As paredes têm ouvidos. 

4.  Persofificação em poemas:

 Poema de Sete Faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.


Carlos Drummond de Andrade

O Mar Jaz 

O mar jaz
In: http://fenixdefogo.wordpress.com/tag/eolo/
gemem em segredo os ventos
Em Eolo cativos;
Só com as pontas do tridente as vastas
Águas franze Netuno;
E a praia é alva e cheia de pequenos
Brilhos sob o sol claro.
Inutilmente parecemos grandes.
Nada, no alheio mundo,
Nossa vista grandeza reconhece
Ou com razão nos serve.
Se aqui de um manso mar meu fundo indício
Três ondas o apagam,
Que me fará o mar que na atra praia
Ecoa de Saturno?


Ricardo Reis

Meus Oito Anos

Oh ! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor!

Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia E a lua beijando o mar!

Oh ! dias de minha infância!
Oh ! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez de mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberta ao peito,
- Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo,
E despertava a cantar!

Oh ! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
- Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Casimiro de Abreu


5. Personificação em propaganda:


Confira outros exemplos no link: http://www.designontherocks.xpg.com.br/a-personificacao-na-propaganda/


 6. Em música:


Gostava Tanto de Você

Não sei por que você se foi
Quantas saudades eu senti
E de tristezas vou viver
E aquele adeus não pude dar...

Você marcou na minha vida
Viveu, morreu
Na minha história
Chego a ter medo do futuro
E da solidão
Que em minha porta bate...

E eu!
Gostava tanto de você
Gostava tanto de você...

Eu corro, fujo desta sombra
Em sonho vejo este passado
E na parede do meu quarto
Ainda está o seu retrato
Não quero ver prá não lembrar
Pensei até em me mudar
Lugar qualquer que não exista
O pensamento em você...

E eu!
Gostava tanto de você
Gostava tanto de você...

Não sei por que você se foi
Quantas saudades eu senti
E de tristezas vou viver
E aquele adeus não pude dar...

Você marcou em minha vida
Viveu, morreu
Na minha história
Chego a ter medo do futuro
E da solidão
Que em minha porta bate
...

E eu!
Gostava tanto de você
Gostava tanto de você...

Eu corro, fujo desta sombra
Em sonho vejo este passado
E na parede do meu quarto
Ainda está o seu retrato
Não quero ver prá não lembrar
Pensei até em me mudar
Lugar qualquer que não exista
O pensamento em você...

E eu!
Gostava tanto de você
Gostava tanto de você...

Eu gostava tanto de você!
Eu gostava tanto de você!
Eu gostava tanto de você!
Eu gostava tanto de você!


Tim Maia



Medo da Chuva

É pena que você pense
Que eu sou seu escravo
Dizendo que eu sou seu marido
E não posso partir

Como as pedras imóveis na praia
Eu fico ao seu lado sem saber
Dos amores que a vida me trouxe
E eu não pude viver

Eu perdi o meu medo
O meu medo, o meu medo da chuva
Pois a chuva voltando
Pra terra traz coisas do ar

Aprendi o segredo, o segredo
O segredo da vida
Vendo as pedras que choram sozinhas
No mesmo lugar

Eu não posso entender
Tanta gente aceitando a mentira
De que os sonhos desfazem aquilo
Que o padre falou

Porque quando eu jurei meu amor
Eu traí a mim mesmo, hoje eu sei
Que ninguém nesse mundo
É feliz tendo amado uma vez...
Uma vez

Eu perdi o meu medo
O meu medo, o meu medo da chuva
Pois a chuva voltando
Pra terra traz coisas do ar

Aprendi o segredo, o segredo
O segredo da vida
Vendo as pedras que
Choram sozinhas no mesmo lugar Vendo as pedras que
Choram sozinhas no mesmo lugar
Vendo as pedras que
Sonham sozinhas no mesmo lugar


Raul Seixas