4 de agosto de 2012

Olimpíada de Língua Portuguesa: Texto de apoio para realizar uma entrevista

REGISTRO DE HISTÓRIAS


    Cada um de nós carrega dentro de si lembranças e vivências de momentos marcantes, de experiências prazerosas ou difíceis, marcos de mudança e descobertas. E, cada experiência vivida, que nos parece tão particular, está repleta das memórias de grupos aos quais pertencemos, refletindo a história de um tempo, ou melhor, do nosso tempo. 
    Por isso, a história de vida de toda pessoa é valiosa e merece ser preservada e socializada. O registro da história é o primeiro passo para isso e pode ser feito em um depoimento escrito, em uma gravação de áudio ou vídeo, por meio de uma entrevista, ou ainda um relato coletivo produzido numa roda de histórias.
    Vamos aqui propor situações para que a memória de cada um possa emergir, ser registrada e compartilhada, pois registrar, difundir e articular as visões, práticas, sonhos é uma forma poderosa de construir fontes alternativas para a compreensão dos processos históricos.

Entrevista

    "Entrevistar uma pessoa é ajudá-la a revelar sua história de vida como narrativa construída a partir de suas memórias, daquilo que viveu e conheceu. Por isso, a entrevista pressupõe a interação entre quem conta, o entrevistado e o entrevistador. Cabe ao entrevistador auxiliar o entrevistado a organizar as lembranças de sua vida em uma narrativa própria.
    Nesse caso, a entrevista é uma prática de interação entre dois lados: quem conta e quem pergunta/ouve. Ao contrário de um “interrogatório” ou “questionário”, o que se busca é criar um momento de troca e diálogo entre as duas partes, sendo que o assunto da conversa é a história de vida de uma delas.     Podemos dizer que a entrevista é um produto em co-autoria do entrevistado e do entrevistador.
Busca-se transformar a entrevista num momento solene, até mesmo sublime, em que a pessoa possa se religar a sua memória e contar sua história, com ajuda de um entrevistador atento e respeitoso. É como puxar o fio da memória e deixar que a narrativa flua.
    Costumamos dizer que, para uma boa entrevista, pode bastar uma primeira pergunta. A partir de então, é saber ouvir uma história que muitas vezes está simplesmente guardada, pronta para ser contada. Cabe ao entrevistador auxiliar a pessoa a organizar as lembranças que vêm à tona em uma narrativa própria.
    Cada entrevistado não é entendido, portanto, como uma mera fonte de “informações” sobre o assunto, mas, sim, como uma pessoa que de alguma maneira vivenciou um pedaço daquela história. Neste sentido, sua narrativa de vida é, em si mesma, a principal fonte que se quer coletar.
    De fato, quando ouvimos uma história, estamos recebendo um presente delicado e profundo de alguém: sua história de vida. Cuidados especiais podem ser tomados para retribuir ao entrevistado seu presente: uma cópia de sua entrevista, um certificado, uma carta de agradecimento etc. Além do reconhecimento por sua participação, todos estes cuidados constituem estratégias para que o entrevistado se conscientize da importância de sua história e dos desdobramentos que ela pode ter ao ser integrada às histórias de sua comunidade e da sociedade como um todo.

Alguns pontos sobre o papel e a postura do entrevistador:

    A entrevista pode ser realizada por duas pessoas: uma assume a interlocução direta com o entrevistado e a outra observa e, com uma visão do todo, percebe os “ganchos” perdidos e ajuda a complementar.
Uma entrevista de história de vida dura, no mínimo, uma hora e meia, mas pode também ter mais horas de duração, em várias sessões.
    O entrevistado é o autor principal da narrativa. É ele quem deve determinar o ritmo, o estilo e o conteúdo da sua história. No entanto, o sucesso da entrevista depende muito do entrevistador. Cabe-lhe ajudar o entrevistado, fazendo perguntas, estimulando seu relato. É importante, portanto, se preparar para esse momento. A elaboração de um roteiro da entrevista ajuda bastante.
    O roteiro, porém é apenas um estímulo. É necessário estar totalmente disponível. Ser curioso, escutar com atenção. As melhores perguntas surgem da própria história que está sendo contada. Se o entrevistado falar sem perguntas, pode seguir sem interrupção, mesmo que pareça que ele esteja saindo fora do tema. Apenas interferimos quando for realmente necessário, seja para retomar o fio da meada, seja para ajudá-lo a seguir.
    O corpo, os olhos, os movimentos fazem parte do diálogo e influenciam a construção da narrativa. É necessário estar atento. Cuidado em não demonstrar impaciência, olhando o relógio.
    O entrevistador não discute opiniões ou cobra verdade e precisão histórica. O objetivo da entrevista é registrar a experiência pessoal que o entrevistado tem dos acontecimentos e não uma verdade absoluta. O papel do entrevistador é estimular e auxiliar o entrevistado na construção da história que ele quer contar. E certamente a emoção faz parte.

Dicas para o registro da entrevista:

    Todo o material e equipamento necessário para a realização da entrevista deve ser ordenado e testado antes da entrevista.
    Vale a pena gravar um pequeno cabeçalho informando nome completo do entrevistado, entrevistadores, data e local do registro. Incorporada à gravação, essa claquete permite a identificação imediata dessa nova fonte histórica.
   Vários podem ser os ambientes para a realização da entrevista. Mas, preferencialmente, locais silenciosos, sem muitos estímulos presentes e os celulares devem ser desligados.
    É importante que a entrevista não seja interrompida pelos entrevistadores, pela equipe de gravação, ou por pessoas do entorno, mas avisar o entrevistado que, sempre que ele quiser, poderá ser feito um intervalo.

Roteiro da entrevista:

    O roteiro é uma seqüência de perguntas elaboradas pelo entrevistador, que o ajuda a preparar-se para a entrevista. Não deve ser entendido como um questionário rígido, mas como um guia para “puxar o fio da memória” do entrevistado.
    O desafio é construir uma seqüência de perguntas que ajude a pessoa a encadear seus pensamentos e organizar a narrativa à sua maneira. O tipo e a ordem das perguntas - estejam ou não previstas no roteiro – tendem a definir o tipo de história que será contada.
    Deve-se priorizar a narrativa, as histórias, cuidando para o entrevistado não se perder em comentários e opiniões genéricas.

Algumas dicas para construção do roteiro:

  1. Para começar - Iniciar com perguntas fáceis de responder, como nome, local e data de nascimento. Além de contextualizar a pessoa, essas perguntas têm a função de “esquentar” a entrevista. É como um começo delicado de um relacionamento, e nada como perguntas simples e objetivas para deixar o entrevistado à vontade e ajudá-lo a mergulhar em suas memórias.
  2. Encadeamento - A ordem cronológica costuma ser um bom fio condutor da conversa, mas não é o único. Vale observar se a comunidade ou grupo tem outra lógica de organização de suas histórias. Se for adotado o critério cronológico, o roteiro pode ser organizado em três grandes blocos de perguntas:
  • Introdução: origem da pessoa, pais, avós, infância.
  • Desenvolvimento: fases da sua trajetória, incluindo, se for o caso, o tema específico do projeto.
  • Finalização: conclusão da história, relação com o presente e o futuro. Número de perguntas: O roteiro não precisa ser extenso nem exaurir todos os temas, pois é apenas uma base para a entrevista. Um bom exercício é começar construindo 10 perguntas (três de início, quatro de desenvolvimento e três de finalização) e depois subdividir cada uma em sub-blocos temáticos.
Perguntas que ajudam:

  • Descritivas - Recuperam detalhes envolventes. Exemplo: descreva como era a casa de sua infância.
  • De movimento - Ajudam a continuar sua história. Exemplo: o que você fez depois que saiu de casa?
  • Avaliativas - Provocam momentos de reflexão e avaliação. Exemplo: como foi chegar à cidade grande
Perguntas que atrapalham:

  • Genéricas - Estimulam respostas genéricas (“boa” ou “muito difícil”), sem histórias. Exemplo: como foi sua infância?
  • Puramente informativas - Podem desconcertar o entrevistado e interromper sua narrativa. Exemplo: qual era o nome da praça? (Se importante, tal dado deve ser pesquisado antes ou depois da entrevista.)
  • Com pressupostos - Propiciam respostas meramente opinativas. Exemplo: o que você acha da situação atual do Brasil?
  • Com julgamento de valor - Atendem apenas a hipóteses e anseios do entrevistador. Exemplo: Você não acha que deveria ter feito algo?"


MODELO: FICHA DE ENTREVISTA
(Olimpíada de Língua Portuguesa)


Aluno:
Série: 
Data: 
Professor orientador:
Entrevista
Entrevistador: ­­­­
Entrevistado: ­­­­­­­­­­­­­­­­
Local: 
Cidade:
Estado:
Data da entrevista:
Dados do entrevistado:
Nome completo: 
Idade:
Data de nascimento: 
Sexo: ( ) masculino ( ) feminino
Local de nascimento:­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­
Estado de origem:
Tema da entrevista: O Lugar onde vivo
Objetivo: resgatar a história de vida do entrevistado, para a partir de então, produzir um texto do gênero memórias literárias.
Tempo de duração: 

Roteiro para entrevista:
  • Colete dados pessoais, assim como os descritos acima.
  1. Há quanto tempo mora no local/ cidade?
  2. Conte sobre sua trajetória de vida.
  3. Como era o bairro/ cidade que senhor ou senhora foi criado(a)?
  4. Qual foi o fato marcante do lugar onde sr.(a) morava?
  5. Relate para mim um fato feliz e um fato triste.
  6. Quais eram as brincadeiras?/ O que o sr.(a) fazia para se divertir?
  7. Como eram os costumes da época em que era mais jovem?
  8. Como era o modo de falar das pessoas?
  9. O sr.(a) tem alguma foto, registro documental (carta, cartão-postal...) ou objeto daquele tempo? [usar esse recurso para reconstruir a história durante o diálogo com o entrevistado, estimulando as suas recordações.]
  10. O que existia antigamente na época que era novo e hoje não existe mais?
  11. O que sr.(a) gostaria que continuasse do seu tempo de infância ou mocidade?
  12. Peça ao entrevistado que faça uma comparação entre sua infância/ juventude com os dias atuais.
  • Anexar uma foto da entrevista/ ou entrevistado (colocar legenda)

Relato de experiência (do entrevistador/estudante)

Redija seu texto com base nestas questões:

  • Foi fácil encontrar alguém para entrevistar? Quem era a pessoa?
  • O que aconteceu quando você chegou para a conversa?
  • Quais as perguntas e as respostas feitas durante a conversa? Cite a que mais te emocionou.
  • Qual a reação do entrevistado quando falou de suas lembranças? Demonstrou saudade, alegria, tristeza?
  • Como você fez para não esquecer o que o entrevistado disse? [Anotou no caderno, gravou em forma de vídeo ou de áudio? Pelo celular? Gravador de áudio ou câmera?]

Veja uma entrevista feita por estudantes, assim como você:






23 comentários:

  1. Professora,são quantas linhas no maximo?
    Ah,e eu amei o blog,dá para estudar sem sair da internet.
    Beijos
    Laís

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  2. Vou trabalhar o gênero memórias com meus alunos e estava justamente buscando esse tipo de suporte. Obrigada. Catharina

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  3. Anexei teu blog ao meu, pois, na busca por melhorar a escrita dos estudantes, temos de somar esforços. Abraço.

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  4. Gostei do seu trabalho. Excelente.

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  5. Amei as dicas 👏👏👏👏👏

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  6. Mto bom! Já estou planejando com base nas orientações.

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  7. Muito bom! vai me ajudar bastante vou planejar com base em seu Material.

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  8. Amei a orientação, me Ajudou muito

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  9. Foi muito bom conheçe esse site muito obrigado por ter o que eu queria aqui.

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  10. Foi muito bom conheçe esse site muito obrigado por ter o que eu queria aqui.

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  11. Foi bom me ajudou para a entrevista de português


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  12. Muito obrigada por compartilhar; este roteiro foi muito valioso e esclarecedor. Gostei muito, vou segui-lo.

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  13. Amei vai me ajuda mt😞♥️❤❣

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