Dicas do "Manual de Redação e Estilo",  por Eduardo Lopes Martins Filho de O Estado de S. Paulo
Instruções gerais
1 - Seja claro, preciso, direto, objetivo e conciso. Use frases  curtas e evite intercalações excessivas ou ordens inversas  desnecessárias. Não é justo exigir que o leitor faça complicados  exercícios mentais para compreender o texto.
2 - Construa períodos com no máximo duas ou três linhas de 70  toques. Os parágrafos, para facilitar a leitura, deverão ter cinco  linhas datilografadas, em média, e no máximo oito. A cada 20 linhas,  convém abrir um intertítulo.
3 - A simplicidade é condição essencial do texto jornalístico.  Lembre-se de que você escreve para todos os tipos de leitor e todos, sem  exceção, têm o direito de entender qualquer texto, seja ele político,  econômico, internacional ou urbanístico.
4 - Adote como norma a ordem direta, por ser aquela que conduz  mais facilmente o leitor à essência da notícia. Dispense os detalhes  irrelevantes e vá diretamente ao que interessa, sem rodeios.
5 - A simplicidade do texto não implica necessariamente  repetição de formas e frases desgastadas, uso exagerado de voz passiva  (será iniciado, será realizado), pobreza vocabular, etc. Com palavras  conhecidas de todos, é possível escrever de maneira original e criativa e  produzir frases elegantes, variadas, fluentes e bem alinhavadas. Nunca é  demais insistir: fuja, isto sim, dos rebuscamentos, dos pedantismos  vocabulares, dos termos técnicos evitáveis e da erudição.
6 - Não comece períodos ou parágrafos seguidos com a mesma palavra, nem use repetidamente a mesma estrutura de frase.
7 - O estilo jornalístico é um meio-termo entre a linguagem  literária e a falada. Por isso, evite tanto a retórica e o hermetismo  como a gíria, o jargão e o coloquialismo.
8 - Tenha sempre presente: o espaço hoje é precioso; o tempo do  leitor, também. Despreze as longas descrições e relate o fato no menor  número possível de palavras. E proceda da mesma forma com elas: por que  opor veto a em vez de vetar, apenas?
9 - Em qualquer ocasião, prefira a palavra mais simples: votar é  sempre melhor que sufragar; pretender é sempre melhor que objetivar,  intentar ou tencionar; voltar é sempre melhor que regressar ou retornar;  tribunal é sempre melhor que corte; passageiro é sempre melhor que  usuário; eleição é sempre melhor que pleito; entrar é sempre melhor que  ingressar.
10 - Só recorra aos termos técnicos absolutamente  indispensáveis e nesse caso coloque o seu significado entre parênteses.  Você já pensou que até há pouco se escrevia sobre juros sem chamar  índices, taxas e níveis de patamares? Que preços eram cobrados e não  praticados? Que parâmetros equivaliam a pontos de referência? Que  monitorar correspondia a acompanhar ou orientar? Adote como norma: os  leitores do jornal, na maioria, são pessoas comuns, quando muito com  formação específica em uma área somente. E desfaça mitos. Se o  noticiário da Bolsa exige um ou outro termo técnico, uma reportagem  sobre abastecimento, por exemplo, os dispensa.
11 - Nunca se esqueça de que o jornalista funciona como  intermediário entre o fato ou fonte de informação e o leitor. Você não  deve limitar-se a transpor para o papel as declarações do entrevistado,  por exemplo; faça-o de modo que qualquer leitor possa apreender o  significado das declarações. Se a fonte fala em demanda, você pode usar  procura, sem nenhum prejuízo. Da mesma forma traduza patamar por nível,  posicionamento por posição, agilizar por dinamizar, conscientização por  convencimento, se for o caso, e assim por diante. Abandone a cômoda  prática de apenas transcrever: você vai ver que o seu texto passará a  ter o mínimo indispensável de aspas e qualquer entrevista, por mais  complicada, sempre tenderá a despertar maior interesse no leitor.
12 - Procure banir do texto os modismos e os lugares-comuns.  Você sempre pode encontrar uma forma elegante e criativa de dizer a  mesma coisa sem incorrer nas fórmulas desgastadas pelo uso excessivo.  Veja algumas: a nível de, deixar a desejar, chegar a um denominador  comum, transparência, instigante, pano de fundo, estourar como uma  bomba, encerrar com chave de ouro, segredo guardado a sete chaves, dar o  último adeus. Acrescente as que puder a esta lista.
13 - Dispense igualmente os preciosismos ou expressões que  pretendem substituir termos comuns, como: causídico, Edilidade, soldado  do fogo, elenco de medidas, data natalícia, primeiro mandatário, chefe  do Executivo, precioso líquido, aeronave, campo-santo, necrópole, casa  de leis, petardo, fisicultor, Câmara Alta, etc.
14 - Proceda da mesma forma com as palavras e formas empoladas  ou rebuscadas, que tentam transmitir ao leitor mera idéia de erudição. O  noticiário não tem lugar para termos como tecnologizado, agudização,  consubstanciação, execucional, operacionalização, mentalização,  transfusional, paragonado, rentabilizar, paradigmático, programático,  emblematizar, congressual, instrucional, embasamento, ressociabilização,  dialogal, transacionar, parabenizar e outros do gênero.
15 - Não perca de vista o universo vocabular do leitor. Adote  esta regra prática: nunca escreva o que você não diria. Assim, alguém  rejeita (e não declina de) um convite, protela ou adia (e não  procrastina) uma decisão, aproveita (e não usufrui) uma situação. Da  mesma forma, prefira demora ou adiamento a delonga; antipatia a  idiossincrasia; discórdia ou intriga a cizânia; crítica violenta a  diatribe; obscurecer a obnubilar, etc.
16 - O rádio e a televisão podem ter necessidade de palavras de  som forte ou vibrante; o jornal, não. Assim, goleiro é goleiro e não  goleirão. Da mesma forma, rejeite invenções como zagueirão, becão,  jogão, pelotaço, galera (como torcida) e similares.
17 - Dificilmente os textos noticiosos justificam a inclusão de  palavras ou expressões de valor absoluto ou muito enfático, como certos  adjetivos (magnífico, maravilhoso, sensacional, espetacular, admirável,  esplêndido, genial), os superlativos (engraçadíssimo, deliciosíssimo,  competentíssimo, celebérrimo) e verbos fortes como infernizar,  enfurecer, maravilhar, assombrar, deslumbrar, etc.
18 - Termos coloquiais ou de gíria deverão ser usados com  extrema parcimônia e apenas em casos muito especiais (nos diálogos, por  exemplo), para não darem ao leitor a idéia de vulgaridade e  principalmente para que não se tornem novos lugares-comuns. Como, por  exemplo: a mil, barato, galera, detonar, deitar e rolar, flagrar, com a  corda (ou a bola) toda, legal, grana, bacana, etc.
19 - Seja rigoroso na escolha das palavras do texto. Desconfie  dos sinônimos perfeitos ou de termos que sirvam para todas as ocasiões.  Em geral, há uma palavra para definir uma situação.
20 - Faça textos imparciais e objetivos. Não exponha opiniões,  mas fatos, para que o leitor tire deles as próprias conclusões. Em  nenhuma hipótese se admitem textos como: Demonstrando mais uma vez seu  caráter volúvel, o deputado Antônio de Almeida mudou novamente de  partido. Seja direto: O deputado Antônio de Almeida deixou ontem o PMT e  entrou para o PXN. É a terceira vez em um ano que muda de partido. O  caráter volúvel do deputado ficará claro pela simples menção do que  ocorreu.
21 - Lembre-se de que o jornal expõe diariamente suas opiniões  nos editoriais, dispensando comentários no material noticioso. As únicas  exceções possíveis: textos especiais assinados, em que se permitirá ao  autor manifestar seus pontos de vista, e matérias interpretativas, em  que o jornalista deverá registrar versões diferentes de um mesmo fato ou  conduzir a notícia segundo linhas de raciocínio definidas com base em  dados fornecidos por fontes de informação não necessariamente expressas  no texto.
22 - Não use formas pessoais nos textos, como: Disse-nos o  deputado... / Em conversa com a reportagem do Estado... / Perguntamos ao  prefeito... / Chegou à nossa capital... / Temos hoje no Brasil uma  situação peculiar. / Não podemos silenciar diante de tal fato. Algumas  dessas construções cabem em comentários, crônicas e editoriais, mas  jamais no noticiário.
23 - Como norma, coloque sempre em primeiro lugar a designação  do cargo ocupado pelas pessoas e não o seu nome: O presidente da  República, Fernando Henrique Cardoso... / O primeiro-ministro John  Major... / O ministro do Exército, Zenildo de Lucena... É em função do  cargo ou atividade que, em geral, elas se tornam notícia. A única  exceção é para cargos com nomes muito longos. Exemplo: O engenheiro João  da Silva, presidente do Sindicato das Empresas de Compra, Venda,  Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São  Paulo (Secovi), garantiu ontem que...
24 - Você pode ter familiaridade com determinados termos ou  situações, mas o leitor, não. Por isso, seja explícito nas notícias e  não deixe nada subentendido. Escreva, então: O delegado titular do 47º  Distrito Policial informou ontem..., e não apenas: O delegado titular do  47º informou ontem.
25 - Nas matérias informativas, o primeiro parágrafo deve  fornecer a maior parte das respostas às seis perguntas básicas: o que,  quem, quando, onde, como e por quê. As que não puderem ser esclarecidas  nesse parágrafo deverão figurar, no máximo, no segundo, para que, dessa  rápida leitura, já se possa ter uma idéia sumária do que aconteceu.
26 - Não inicie matéria com declaração entre aspas e só o faça  se esta tiver importância muito grande (o que é a exceção e não a  norma).
27 - Procure dispor as informações em ordem decrescente de  importância (princípio da pirâmide invertida), para que, no caso de  qualquer necessidade de corte no texto, os últimos parágrafos possam ser  suprimidos, de preferência.
28 - Encadeie o lead de maneira suave e harmoniosa com os  parágrafos seguintes e faça o mesmo com estes entre si. Nada pior do que  um texto em que os parágrafos se sucedem uns aos outros como  compartimentos estanques, sem nenhuma fluência: ele não apenas se torna  difícil de acompanhar, como faz a atenção do leitor se dispersar no meio  da notícia.
29 - Por encadeamento de parágrafos não se entenda o cômodo uso  de vícios lingüísticos, como por outro lado, enquanto isso, ao mesmo  tempo, não obstante e outros do gênero. Busque formas menos batidas ou  simplesmente as dispense: se a seqüência do texto estiver correta, esses  recursos se tornarão absolutamente desnecessários.
30 - A falta de tempo do leitor exige que o jornal publique  textos cada dia mais curtos (20, 40 ou 60 linhas de 70 toques, em  média). Por isso, compete ao redator e ao repórter selecionar com o  máximo critério as informações disponíveis, para incluir as essenciais e  abrir mão das supérfluas. Nem toda notícia está jornalisticamente tão  bem encadeada que possa ser cortada pelo pé sem maiores prejuízos.  Quando houver tempo, reescreva o texto: é o mais recomendável. Quando  não, vá cortando as frases dispensáveis.
31 - Proceda como se o seu texto seja o definitivo e vá sair  tal qual você o entregar. O processo industrial do jornal nem sempre  permite que os copies, subeditores ou mesmo editores possam fazer uma  revisão completa do original. Assim, depois de pronto, reveja e confira  todo o texto, com cuidado. Afinal, é o seu nome que assina a matéria.
32 - O recurso à primeira pessoa só se justifica, em geral, nas  crônicas. Existem casos excepcionais, nos quais repórteres,  especialmente, poderão descrever os fatos dessa forma, como  participantes, testemunhas ou mesmo personagens de coberturas  importantes. Fique a ressalva: são sempre casos excepcionais.
33 - Nas notícias em seqüência (suítes), nunca deixe de se  referir, mesmo sumariamente, aos antecedentes do caso. Nem todo leitor  pode ter tomado conhecimento do fato que deu origem à suíte.
34 - A correção do noticiário responde, ao longo do tempo, pela  credibilidade do jornal. Dessa forma, não dê notícias apressadas ou não  confirmadas nem inclua nelas informações sobre as quais você tenha  dúvidas. Mesmo que o texto já esteja em processo de composição, sempre  haverá condições de retificar algum dado impreciso, antes de o jornal  chegar ao leitor.
35 - A correção tem uma variante, a precisão: confira  habitualmente os nomes das pessoas, seus cargos, os números incluídos  numa notícia, somas, datas, horários, enumerações. Com isso você estará  garantindo outra condição essencial do jornal, a confiabilidade.
36 - Nas versões conflitantes, divergentes ou não confirmadas,  mencione quais as fontes responsáveis pelas informações ou pelo menos os  setores dos quais elas partem (no caso de os informantes não poderem  ter os nomes revelados). Toda cautela é pouca e o máximo cuidado nesse  sentido evitará que o jornal tenha de fazer desmentidos desagradáveis.
37 - Quando um mesmo assunto aparecer em mais de uma editoria  no mesmo dia, deverá haver remissão, em itálico, de uma para outra: Mais  informações sobre o assunto na página... / A repercussão do seqüestro  no Brasil está na página... / Na página... o prefeito fala de sua  candidatura à Presidência. / Veja na página... as reações econômicas ao  discurso do presidente.
38 - Se você tem vários originais para reescrever, adote a  técnica de marcar as informações mais importantes de cada um deles. Você  ganhará tempo e evitará que algum dado relevante fique fora do  noticiário.
39 - Nunca deixe de ler até o fim um original que vá ser  refeito. Mesmo que você tenha apenas 15 linhas disponíveis para a nota, a  linha 50 do texto primitivo poderá conter informações indispensáveis,  de referência obrigatória.
40 - Preocupe-se em incluir no texto detalhes adicionais que  ajudem o leitor a compreender melhor o fato e a situá-lo: local,  ambiente, antecedentes, situações semelhantes, previsões que se  confirmem, advertências anteriores, etc.
41 - Informações paralelas a um fato contribuem para enriquecer  a sua descrição. Se o presidente dorme durante uma conferência, isso é  notícia; idem se ele tira o sapato, se fica conversando enquanto alguém  discursa, se faz trejeitos, etc. Trata-se de detalhes que quebram a  monotonia de coberturas muito áridas, como as oficiais, especialmente.
42 - Registre no texto as atitudes ou reações das pessoas,  desde que significativas: mostre se elas estão nervosas, agitadas,  fumando um cigarro atrás do outro ou calmas em excesso, não se deixando  abalar por nada. Em matéria de ambiente, essas indicações permitem que o  leitor saiba como os personagens se comportavam no momento da  entrevista ou do acontecimento.
43 - Trate de forma impessoal o personagem da notícia, por mais  popular que ele seja: a apresentadora Xuxa ou Xuxa, apenas (e nunca a  Xuxa), Pelé (e não o Pelé), Piquet (e não o Piquet), Ruth Cardoso (e não  a Ruth Cardoso), etc.
44 - Sempre que possível, mencione no texto a fonte da  informação. Ela poderá ser omitida se gozar de absoluta confiança do  repórter e, por alguma razão, convier que não apareça no noticiário.  Recomenda-se, no entanto, que o leitor tenha alguma idéia da procedência  da informação, com indicações como: Fontes do Palácio do Planalto... /  Fontes do Congresso... / Pelo menos dois ministros garantiram ontem  que..., etc.
45 - Na primeira citação, coloque entre parênteses o nome do  partido e a sigla do Estado dos senadores e deputados federais: o  senador João dos Santos (PSDB-RS), o deputado Francisco de Almeida  (PFL-RJ). No caso dos deputados estaduais de São Paulo e dos vereadores  paulistanos, mencione entre parênteses apenas a sigla do partido.
46 - O Estado não admite generalizações que possam atingir toda  uma classe ou categoria, raças, credos, profissões, instituições, etc.
47 - Um assunto muito sugestivo ou importante resiste até a um  mau texto. Não há, porém, assunto mediano ou meramente curioso que  atraia a atenção do leitor, se a notícia se limitar a transcrever  burocraticamente e sem maior interesse os dados do texto.
48 - Em caso de dúvida, não hesite em consultar dicionários,  enciclopédias, almanaques e outros livros de referência. Ou recorrer aos  especialistas e aos colegas mais experientes.
49 - Veja alguns exemplos de textos noticiosos objetivos,  simples e diretos, constituídos de frases curtas e incisivas (todos eles  saíram no Estado como chamadas de primeira página):
Os juros passaram a ser fator importante para os consumidores  dispostos a fazer compras neste fim de ano. Dos 261 paulistanos ouvidos  pelo InformEstado, 82,8% disseram que vão gastar menos no Natal em  relação ao ano passado. O alto custo do financiamento das compras foi  apontado por 34,5% dos entrevistados como motivo básico para a decisão. O  comércio e a indústria reduziram as margens de lucro, o governo atenuou  as restrições ao crédito e o mercado oferece produtos mais baratos que  no último Natal, mas os juros pesam.