7 de maio de 2013

Tipologia textual: Dissertação


A dissertação é um discurso lógico e generalizador que apresenta uma tese (o que se quer provar), um ponto de vista sobre determinado assunto. Ela pressupõe, sempre, conhecimento do assunto sobre o qual se deseja discorrer, reflexão sobre o tema proposto e posterior organização das ideias.
O texto dissertativo padrão apresenta-se composto de três partes: introdução, desenvolvimento e conclusão, cada uma das quais pode conter um ou mais parágrafos.
Quanto à formulação dos textos, o discurso dissertativo pode apresentar-se como:

1) expositivo: trata-se da apresentação, explicação ou constatação, de maneira impessoal, sem julgamento de valor e sem propósito de convencer o leitor. 

 2) argumentativo: apresentação, explicação ou constatação de um fato para convencer através de um raciocínio lógico, coerente e baseado na evidência das provas. A argumentação procura formar opinião, convencendo o leitor de que a razão está com quem organizou o texto.
 Estrutura do texto dissertativo
 Imaginemos um tema para dissertação: a industrialização (o tema caracteriza-se por ser amplo, estender-se no sentido horizontal a e ser um elemento comum a todas partes do texto). Para que o texto, a ser elaborado a partir desse tema, seja realmente eficaz, ele deverá problematizá-lo, isto é, verticalizar, aprofundar, relacionar.
 Observe o desenvolvimento do tema industrialização nestes dois textos:
 (1) - A INDUSTRIALIZAÇÃO É UM FENÔMENO CARACTERÍSTICO DAS SOCIEDADES MODERNAS, INDUSTRIALIZAÇÃO É CRIAÇÃO DE INDÚSTRIAS. AS INDÚSTRIAS PRODUZEM BENS DE PRODUÇÃO.
O BRASIL ESTÁ SE INDUSTRIALIZANDO. EXISTEM PAÍSES MAIS INDUSTRIALIZADOS QUE O BRASIL, COMO OS ESTADOS UNIDOS, JAPÃO, ETC. HÁ OUTROS MAIS ATRASADOS, COMO PARAGUAI E O HAITI, POR EXEMPLO. ALGUMAS INDÚSTRIAS POLUEM O MEIO AMBIENTE. MAS AS INDÚSTRIAS DÃO EMPREGO A MUITA GENTE. AS INDÚSTRIAS SE CONCENTRAM NAS REGIÕES INDUSTRIAIS. ENFIM, A INDUSTRIALIZAÇÃO É A ALMA DO PROCESSO.
 (2) QUERER QUE TODOS OS POVOS DA TERRA ALCANCEM O NÍVEL DE DESENVOLVIMENTO E INDUSTRIALIZAÇÃO QUE CARACTERIZOU OS ESTADOS UNIDOS E A EUROPA É UMA PRETENÇÃO ABSURDA. SE OS QUATRO BILHÕES DE HABITANTES DO GLOBO ESTIVESSEM "DESENVOLVIDOS" DE ACORDO COM AS DEFINIÇÕES VIGENTES, SE TIVESSEM O CONSUMO MATERIAL AMERICANO QUE, ENTRE OUTRAS COISAS, SIGNIFICA UM AUTOMÓVEL PARA CADA DUAS PESSOAS, TERÍAMOS HOJE CERCA DE DOIS BILHÕES DE CARROS NA TERRA. NO ANO DE 2000, SERIAM MAIS DE TRÊS BILHÕES, EM 2030, MAIS DE SEIS BILHÕES E ASSIM POR DIANTE. HOJE TEMOS ALGO MAIS DE 200 MILHÕES E A SITUAÇÃO JÁ SE TORNA INSUPORTÁVEL.
 (José A. Lutzenberger) 
O primeiro texto não problematiza nada: é apenas um amontoado de frases sem coesão. O segundo texto apresenta um problema claro: os povos da Terra não podem aspirar a atingir o mesmo nível de industrialização dos Estados Unidos.
A problematização do tema (o levantamento de uma hipótese de trabalho) é fundamental para a elaboração de um texto crítico, coerente, aprofundado e constitui o passo inicial (introdução) do texto dissertativo.
 Não basta, no entanto, possuir uma tese sobre o tema, é necessário desenvolver para demonstrar essa tese. No desenvolvimento a preocupação maior de quem elabora o texto deve fundamentar de maneira clara e convincente as ideias que expõe ou defende. Sustentam-se os argumentos através de duas formas: evidência e raciocínio.

 São quatro os tipos de evidência: 

1) os fatos: só eles provam, “contra fatos não há argumentos!” Mas seu valor de prova é relativo, pois os fatos estão sujeitos às modificações da ciência, da técnica, da moral, etc.
2) exemplos: são fatos típicos, específicos e representativos de uma determinada situação.
3) estatísticas: de grande valor persuasivo, embora possam ser manipulados.
4) testemunhos: palavras de pessoa considerada “expert” no assunto.
São também quatro os tipos de raciocínio (raciocinar é o processo de extrair inferências de fatos, exemplos estatísticos e testemunhos):
1) indução: extrair uma generalização de um ou mais fatos particulares (raciocínio que vai do particular para o geral). É o método utilizado pelo cientista quando, a partir de inúmeras experiências, descobre a lei que rege os casos particulares.
Ivone é professora da rede estadual e ganha pouco.
Jair é professor da rede estadual e ganha pouco.
Laís é professora da rede estadual e ganha pouco.
Desses fatos particulares facilmente se chega à conclusão de que todos os professores da rede estadual ganham pouco.
2) dedução: é a aplicação de uma regra geral a um caso particular (raciocínio que vai do geral para o particular). O processo de dedução é silogístico e baseia-se na exatidão das premissas. Silogismo é raciocínio formado de três proposições: a primeira, chamada de premissa maior; a segunda, premissa menor a terceira, conclusão. O exemplo clássico de silogismo é:
Todos os homens são mortais. (premissa maior)
Sócrates é homem. (premissa menor)
Logo, Sócrates é mortal. (conclusão)
A força desse tipo de raciocínio está na exatidão da premissa maior, caso contrário pode-se incorrer em conclusões absurdas.
EXEMPLO:
Todo político é desonesto.
Teodoro é político.
Logo, Teodoro é político.
3) relações causais: elas estabelecem possibilidades e não certezas a apresentam-se sob dois aspectos:
a) de causa e efeito:
Beber cerveja me dá dor no estômago.
Se beber cerveja, ficarei com dor de estômago.
b) de efeito e causa: (procura-se determinar a causa):
O rio Tietê transborda com as chuvas de verão.
Isso acontece porque os trabalhos de desassoreamento não estão sendo feitos corretamente.
4) analogia: determina o grau de probabilidade de uma situação através do exame de acontecimentos ou circunstâncias semelhantes.
Meu vizinho sofre de dor do estômago, toma chá de boldo e passa bem. Eu sofro do estômago, portanto, se tomar chá de boldo, passarei bem.
O último movimento do texto dissertativo é a conclusão que deve derivar naturalmente do desenvolvimento (com suas evidências e raciocínios) ratificar a introdução.

Referência Bibliográfica: OLIVEIRA, Ana Tereza Pinto de. Minimanual compacto de redação e estilo: teoria e prática. - São Paulo: Rideel, 1999, p.290-297.

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